No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciava à Presidência da República. Seu curto mandato havia sido caracterizado pelo afastamento em relação aos partidos que lhe haviam dado suporte inicial e pela condução de uma política externa independente que abalava o humor de líderes políticos liberais e militares pró-EUA. A Constituição, então, previa que o cargo vago fosse entregue ao vice-presidente, posição ocupada na época por João Goulart (Jango). Este, por sua vez, que se encontrava na China em visita oficial, era considerado por seus opositores um perigoso líder de massas. Nesse cenário, Jânio calculava que, ao renunciar, nem o Congresso e nem os militares se permitiriam entregar a Presidência ao seu vice Jango, esperando, assim, ser reconduzido ao cargo com poderes ampliados.

O cálculo de Jânio, no entanto, se mostrou equivocado e o autogolpe não vingou. Em vez disso, a crise política se aprofundou quando os ministros militares e líderes civis conservadores obstaculizaram a nomeação de Jango como presidente, mesmo após o Congresso se negar a vetar a posse. Enquanto se mantinha o empasse, Brizola sacudia o sul do país com a Campanha da Legalidade, obstinada em garantir a posse de Jango, e o 3º Exército, se mobilizava com o mesmo propósito, ameaçando irromper a primeira guerra civil da história do Brasil republicano.

A crise foi contornada com a criação de uma comissão no Congresso que propôs a diminuição dos poderes do presidente e a adoção de um regime parlamentarista. Assim sendo, depois de uma longa viagem de volta, propositalmente repleta de  escalas, Jango chegou ao Brasil em 31 de agosto de 1961. Dias mais tarde, no aniversário da Independência, o vice pôde assumir finalmente a posse em Brasília. A situação ficava parcialmente resolvida, mas sucessivas manifestações de crise política acompanhariam todo o governo Jango até o golpe civil-militar de 1964.

O vídeo abaixo é de uma entrevista de João Goulart concedida à TV Tupi assim de sua chegada a Brasília. O clima já era então de retorno à normalidade. No entanto, o repórter não se furta a tocar em questões candentes daquele momento, como quando questiona quais seriam as pessoas que comporiam o executivo e que relação seria mantida entre este e o Congresso Nacional, que permanecia em grande parte hostil à figura de Jango.