Na noite de 10 de abril de 1972, em Los Angeles, durante a 44º cerimônia de premiação do Oscar, Charles Chaplin subia ao palco para receber o prêmio honorário da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por sua “incalculável contribuição à arte do cinema".

Era um momento histórico. Chaplin fazia breve retorno de seu exílio na Suiça, após 20 anos de banimento dos EUA em consequência das duras perseguições dos anos de Marcartismo. No pós-Segunda Guerra, o artista havia sido incluído na lista dos perseguidos de Hollywood devido aos seus posicionamentos políticos e ao caráter crítico de suas obras. Em 1952, as acusações feitas pelo Comitê de Atividades Anti-americanas, que era presidido pelo senador Joseph McCarthy, levaram à proibição do regresso de Chaplin aos EUA, após ter realizado uma viagem à Inglaterra.

Quando convidado a receber a honraria em 1972, Chaplin não a recusou. Em seu breve discurso de agradecimento, muito emocionado, demonstrou não guardar rancores. Seguiu-se uma ovação que durou cerca de 12 minutos. Muitos consideram esse o momento mais marcante das cerimônias do Oscar. O roteirista Daniel Taradash, que entregou a estatueta, relembrou frases célebres de Chaplin em "O grande ditador" (1940). Eis uma passagem ainda muito atual do discurso presente no filme:

"Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."

Charles Chaplin morreria 5 anos depois na Suiça, em 25 de dezembro de 1977, aos 88 anos.