A infância não passou incólume às transformações da sociedade brasileira após o golpe civil-militar de 1964. Moldar o imaginário infantil era algo que também se inseria na construção de um consenso em torno de valores conservadores e autoritários. Criado em 1966, o programa infantil Clube do Capitão Aza se destacou neste processo, valendo-se das inovações da mídia de massas e dos novos produtos culturais exportados pela TV norte-americana (como desenhos animados de super-heróis).

O programa estreou na TV Tupi dois anos após o golpe, perdurando até 1979, ano da promulgação da Lei de Anistia. Sua principal atração eram os desenhos animados, além das muitas mensagens proferidas pelo apresentador e delegado de polícia Wilson Vasconcelos Vianna, que interpretava o Capitão Aza (também auto-intitulado capitão em chefe das forças armadas infantis do Brasil).

No vídeo postado, é possível perceber um linguajar inspirado no militarismo, bem como a tentativa de forjar um sentimento de integração nacional, um dos fundamentos da propaganda do regime militar e da sua "Doutrina de Segurança Nacional" (há ainda uma saudação ao então presidente Emílio Médici). Nas datas festivas, como o 7 de Setembro, o Capitão Aza participava dos desfiles das Forças Armadas na Av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro.

Nas suas ações mais perversas, este misto de super-herói ianque e militar latino-americano estimulava os telespectadores infantis a reportar às autoridades policiais eventuais comportamentos suspeitos dos seus pais, como participação em reuniões, contato com pessoas "estranhas", etc. A intenção, se dizia, era a de ajudar a família.