Em 1947, a indústria de carvão do Reino Unido foi estatizada pelo governo trabalhista do primeiro-ministro Clement Atlee, seguindo o plano de reconstrução da economia britânica no imediato pós-guerra sob as diretrizes do Estado de bem-estar social. Décadas mais tarde, em 1979, Margaret Thacther liderou os conservadores à vitória eleitoral com uma plataforma de desmonte da estrutura social que havia proporcionado os mais altos padrões de vida experimentados pela classe trabalhadora britânica até então. Vivia-se, naquele momento, uma profunda crise econômica iniciada na da década anterior e, em resposta, se iniciava a introdução do modelo neoliberal.

Seguindo seu plano, Thatcher decide, em 1984, privatizar ou encerrar a atividade de inúmeras minas de carvão do país, sob a justificativa de que a produção se tornara ineficiente e excessivamente dispendiosa. Em resposta, os mineiros iniciam uma série de movimentos grevistas, levando a União Nacional dos Mineiros a convocar uma greve geral que duraria um ano e chegaria a envolver 142 mil trabalhadores.

Além de fechar minas, o objetivo de Thatcher e dos conservadores era o de atingir em cheio o sindicalismo britânico. Após severos embates e nenhuma negociação, esse objetivo foi alcançado e o poder do movimento popular e dos sindicatos foi drasticamente diminuído dali para frente Diversas indústrias e serviços então na mão do Estado foram privatizados. Contudo, a economia britânica jamais voltou ao mesmo patamar de estabilidade observada nas primeiras décadas da segunda metade do século XX.


Reportagem produzida pelo canal estatal britânico "Channel 4", documentando 
a greve geral dos mineiros britânicos.

Vídeo de protesto rememorando a greve e a repressão do governo



Em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista e seus aliados invadiram o território da União Soviética forçando a entrada desta na Segunda Grande Guerra. Com esse ato, o líder nazista Adolph Hitler rompia o pacto de não agressão firmado com os soviéticos em agosto de 1939 (Pacto Germano-Soviético ou Pacto Ribbentrop-Molotov). Dias mais tarde, em 3 de julho de 1941, o líder máximo da União Soviética, Josef Stálin, proferiu um dos seus mais célebres discursos, transmitido ao povo soviético através das ondas de rádio. Nele, Stálin convoca a população para a "Grande Guerra Patriótica", nome pelo qual o conflito foi chamado na antiga União Soviética.

O áudio do discurso está disponibilizado abaixo. Mais abaixo está a transcrição completa do discurso de Stálin (crédito: Erick Fishuk).





Camaradas! Cidadãos! Irmãos e irmãs!
Combatentes de nosso exército e marinha!

É a vocês que me dirijo, meus amigos!

A traiçoeira agressão militar da Alemanha hitlerista à nossa Pátria, iniciada em 22 de junho, continua. Apesar da heroica resistência do Exército Vermelho, apesar das melhores divisões e melhores unidades de aviação inimigas já terem sido destruídas e perecido nos campos de batalha, o inimigo avança em sua incursão, lançando ao front novas forças. As tropas hitleristas conseguiram tomar a Lituânia, uma parte significativa da Letônia, o Oeste da Bielo-Rússia e parte do Oeste da Ucrânia. A aviação fascista está ampliando as áreas de operação de seus bombardeiros, submetendo a seu fogo Murmansk, Orsha, Magiliou, Smolensk, Kyiv, Odesa, Sevastopol. Nossa Pátria está correndo um sério perigo.

Como pôde ocorrer de nosso glorioso Exército Vermelho ter cedido às tropas fascistas tantas cidades e distritos nossos? Será que as tropas fascistas alemãs são realmente um exército invencível, como apregoa sem descanso a vaidosa propaganda fascista?

Claro que não! A história ensina que não há e nunca houve exércitos invencíveis. O exército de Napoleão se reputava invencível, mas foi destruído em sucessão por tropas russas, inglesas e alemãs. O exército alemão de Guilherme 2.º na época da primeira guerra imperialista também se reputava invencível, mas foi várias vezes derrotado pelas tropas russas e anglo-francesas e finalmente destruído por ingleses e franceses. Deve-se dizer hoje o mesmo sobre o exército fascista alemão de Hitler. Esse exército ainda não havia encontrado séria resistência no continente europeu, e apenas em nosso território se deparou com real oposição. E se por conta dessa resistência as melhores divisões do exército fascista alemão foram destruídas por nosso Exército Vermelho, significa que as tropas hitleristas também podem ser, e serão, destruídas, tal como o foram os exércitos de Napoleão e de Guilherme 2.º.

Quanto ao fato de parte de nosso território, mesmo assim, estar ocupada pelas tropas fascistas alemãs, a explicação principal é que a guerra da Alemanha fascista contra a URSS começou sob condições favoráveis às tropas alemãs e desfavoráveis às tropas soviéticas. Ocorre que a Alemanha, como país que conduz a guerra, já tinha as tropas inteiramente mobilizadas, e as 170 divisões alemãs lançadas contra a URSS e alocadas junto às nossas fronteiras se encontravam em estado de total prontidão, esperando apenas o sinal para avançar, enquanto as tropas soviéticas ainda deviam se mobilizar e se alocar nas fronteiras. Aqui também importou muito a circunstância da Alemanha fascista ter violado de forma inesperada e traiçoeira o pacto de não agressão que ela assinou em 1939 com a URSS, não contando que seria considerada pelo mundo inteiro como o lado agressor. É natural que nosso pacífico país, não querendo tomar para si a iniciativa de violar o pacto, não podia seguir o caminho da traição.

Pode-se perguntar: como pôde ocorrer do Governo Soviético ter-se posto a assinar um pacto de não agressão com pessoas tão traiçoeiras e monstruosas como Hitler e Ribbentrop? Não teria sido aqui cometido um erro da parte do Governo Soviético? Claro que não! O pacto de não agressão é um tratado de paz entre dois Estados, e foi exatamente algo assim que nos propôs a Alemanha em 1939. Podia o Governo Soviético recusar tal proposta? Penso que nenhum Estado pacífico pode recusar um acordo de paz com potência vizinha, mesmo que no comando dela se encontrem monstros e canibais como Hitler e Ribbentrop. E isso, claro, sob a condição obrigatória de que o acordo de paz não fira direta ou indiretamente a integridade territorial, a independência e a honra do Estado pacífico. Como se sabe, o pacto de não agressão entre a Alemanha e a URSS é exatamente dessa natureza.

O que nós ganhamos ao assinar com a Alemanha o pacto de não agressão? Garantimos paz a nosso país durante um ano e meio e a possibilidade de preparar suas forças para reagir, caso a Alemanha fascista se arriscasse a agredi-lo a despeito do pacto. É um ganho inegável para nós e uma perda para a Alemanha fascista.

O que ganhou e perdeu a Alemanha fascista ao romper traiçoeiramente o pacto e cometer a agressão à URSS? Ela alcançou situação um tanto vantajosa para suas tropas durante um curto prazo, mas perdeu politicamente, revelando-se aos olhos do mundo inteiro como uma agressora sanguinária. Não se pode duvidar que esse ganho militar passageiro para a Alemanha é apenas episódico, e que o imenso ganho político para a URSS constitui o fator sério e duradouro em cuja base devem se desdobrar os sucessos militares decisivos do Exército Vermelho na guerra contra a Alemanha fascista.

É por isso que todo nosso valoroso exército, toda nossa valorosa marinha de guerra, todos os nossos pilotos-falcões, todos os povos de nosso país, toda a melhor gente da Europa, América e Ásia, enfim, toda a melhor gente da Alemanha repudiam as ações traiçoeiras dos fascistas alemães e demonstram simpatia pelo Governo Soviético, aprovam a conduta dele e veem que nossa causa é justa, que o inimigo será destruído, que nós devemos vencer.

Por força da guerra que nos foi imposta, nosso país entrou num embate mortal com seu pérfido e fidagal inimigo, o fascismo alemão. Nossas tropas estão combatendo heroicamente um adversário armado até os dentes com tanques e aviões. O Exército e a Marinha Vermelhos, superando inúmeras dificuldades, estão lutando abnegadamente por cada palmo da Terra Soviética. Estão entrando em combate as principais forças do Exército Vermelho, armadas com milhares de tanques e aviões. A bravura dos guerreiros do Exército Vermelho não tem paralelo. Nossa reação ao inimigo está ficando maior e mais forte. Junto ao Exército Vermelho está se erguendo em defesa da Pátria todo o povo soviético.

O que se exige para liquidar o perigo que nossa Pátria está correndo, e que medidas devemos tomar para derrotar o inimigo?

Antes de tudo, é indispensável que nosso povo, o povo soviético, entenda toda a profundidade do perigo que ameaça nosso país e renuncie à benevolência, ao relaxamento, aos humores da edificação pacífica, plenamente compreensíveis antes da guerra, mas atualmente nocivos, já que ela mudou radicalmente a situação. O inimigo é cruel e implacável. Ele tem por objetivo tomar nossas terras, regadas com nosso suor, tomar nossos cereais e nosso petróleo, produzidos com nosso esforço. Ele tem por objetivo restaurar o poder dos latifundiários e o tsarismo, destruir cultura e instituições nacionais de russos, ucranianos, bielo-russos, lituanos, letões, estonianos, usbeques, tártaros, moldávios, georgianos, armênios, azerbaijanos e outros povos livres da União Soviética, germanizar esses povos, transformá-los em escravos dos príncipes e barões alemães. Trata-se, assim, da vida ou morte do Estado Soviético, da vida ou morte dos povos da URSS e seu ingresso na liberdade ou na escravização. Os soviéticos precisam entender isso, deixar de ser descuidados, mobilizar-se e reorganizar todo seu trabalho de um jeito novo, bélico, que não inspire pena do inimigo.

É indispensável, a seguir, que em nossas fileiras não haja lugar para chorões e covardes, alarmistas e desertores, que nossa gente desconheça o temor na luta e vá abnegadamente à nossa Guerra Libertadora Patriótica contra os escravizadores fascistas. O grande Lenin, fundador de nosso Estado, dizia que as qualidades essenciais dos soviéticos deviam ser a bravura, a ousadia, a ausência de temor na luta, a disposição para combater junto ao povo os inimigos de nossa Pátria. É indispensável que essas excelentes qualidades de um bolchevique se tornem atributos dos milhões e milhões em nosso Exército e Marinha Vermelhos e em todos os povos da União Soviética.

Devemos desde já reorganizar todo nosso trabalho de um jeito bélico, submetendo tudo aos interesses do front e às tarefas que organizem a derrota do inimigo. Os povos da União Soviética veem agora que o fascismo alemão é irrefreável em seu rancor e ódio ensandecidos à nossa Pátria, a qual garantiu a todos os trabalhadores emprego livre e bem-estar. Os povos da União Soviética devem se erguer em defesa de seus direitos e de sua terra contra o inimigo.

O Exército e a Marinha Vermelhos e todos os cidadãos da União Soviética devem proteger cada palmo da Terra Soviética, brigar até a última gota de sangue por nossas cidades e povoados, demonstrar a coragem, iniciativa e astúcia próprias de nosso povo.

Devemos organizar uma ajuda multilateral ao Exército Vermelho, garantir o reforço intensivo de suas fileiras, garantir-lhe o abastecimento com todo o necessário, organizar o rápido avanço dos transportes de tropas e carga militar e uma ampla ajuda aos feridos.

Devemos fortalecer a retaguarda do Exército Vermelho, submetendo aos interesses dessa missão todo o nosso trabalho, garantir o funcionamento intensivo de todas as empresas, fabricar mais fuzis, metralhadoras, canhões, cartuchos, projéteis, aviões, organizar a salvaguarda das fábricas, centrais elétricas, serviços telefônicos e telegráficos, ajustar a defesa antiaérea local.

Devemos organizar uma luta sem trégua contra quaisquer desorganizadores da retaguarda, desertores, alarmistas, espalhadores de boatos, aniquilar os espiões, diversionistas, para-quedistas inimigos, prestando em tudo isso assistência rápida a nossos batalhões de extermínio. Precisamos ter em vista que o inimigo é pérfido, ardiloso, perito em enganar e espalhar falsos boatos. É preciso levar tudo isso em conta e resistir às provocações. Precisamos desde já julgar no tribunal de guerra todos os que estorvam com seu alarmismo e covardia a causa da defesa, sem qualquer distinção.

Em caso de retirada forçada das unidades do Exército Vermelho, devemos levar todo material ferroviário rodante, não deixar ao inimigo uma só locomotiva, um só vagão, não deixar ao adversário um só quilo de cereais, um só litro de combustível. Os kolkhozianos devem levar todo o gado, entregar os cereais à proteção dos órgãos estatais para serem transportados a regiões na retaguarda. Todos os bens valiosos, inclusive metais não ferrosos, cereais e combustível, que não puderem ser levados devem ser absolutamente destruídos.

Nas regiões ocupadas pelo inimigo, devemos criar grupos guerrilheiros de cavalaria e infantaria, criar grupos de sabotagem que combatam as unidades do exército inimigo, fomentem guerrilhas por toda parte, explodam pontes e estradas, avariem serviços telefônicos e telegráficos, incendeiem bosques, depósitos e comboios. Nas regiões ocupadas, devemos criar condições intoleráveis ao inimigo e todos os seus cúmplices, perseguir e aniquilá-los a cada passo, frustrar todas as suas iniciativas.

A guerra contra a Alemanha fascista não deve ser tida como uma guerra qualquer. Ela não é apenas uma guerra entre dois exércitos. Ela é, além disso, uma grande guerra de todo o povo soviético contra as tropas fascistas alemãs. O objetivo dessa Guerra Patriótica nacional contra os opressores fascistas não é apenas liquidar o perigo que nosso país está correndo, mas também ajudar todos os povos da Europa dobrados pelo jugo do fascismo alemão. Nessa guerra libertadora não estaremos sozinhos. Nessa grande guerra teremos aliados fiéis na figura dos povos da Europa e América, inclusive do povo alemão escravizado pelos figurões hitleristas. Nossa guerra pela liberdade da Pátria se confundirá com a luta dos povos da Europa e América por sua independência e pelas liberdades democráticas. Essa será uma frente única dos povos que defendem a liberdade, contra a escravização e a ameaça de escravização por parte dos exércitos fascistas de Hitler. Por essa razão, o histórico discurso do Sr. Churchill, premiê britânico, sobre a ajuda à União Soviética e a declaração do governo dos EUA sobre a disposição em prestar ajuda a nosso país, os quais só podem despertar um sentimento de gratidão nos corações dos povos da União Soviética, são plenamente compreensíveis e significativos.

Camaradas! Nossas forças são incalculáveis. O inimigo, cheio de presunção, logo deverá se convencer disso. Junto ao Exército Vermelho estão se erguendo milhares e milhares de operários, kolkhozianos e intelectuais para a guerra contra o inimigo agressor. Vão se levantar as massas de milhões de nosso povo. Os trabalhadores de Moscou e Leningrado já se puseram a formar aos milhares uma milícia popular em apoio ao Exército Vermelho. Em cada cidade que correr o perigo de invasão inimiga, devemos formar tal milícia popular, erguer todos os trabalhadores à luta para defender de corpo e alma sua liberdade, sua honra e sua Pátria em nossa Guerra Patriótica contra o fascismo alemão.

Para mobilizarmos rapidamente todas as forças dos povos da URSS e para conduzirmos a reação ao inimigo e sua agressão traiçoeira à nossa Pátria, criamos o Comitê Estatal de Defesa, em cujas mãos concentramos a plenitude do poder do Estado. O Comitê Estatal de Defesa se pôs a trabalhar e está conclamando todo o povo a cerrar-se em torno do partido de Lenin e Stalin, em torno do Governo Soviético para apoiar com abnegação o Exército e a Marinha Vermelhos, para derrotar o inimigo, para vencer.

Todas as nossas forças em apoio a nosso heroico Exército Vermelho, à nossa gloriosa Marinha Vermelha!

Todas as forças do povo à derrota do inimigo!

Avante, pela nossa vitória!
















Cairo, 6 de outubro de 1981. Anwar Al Sadat, presidente do Egito, é assassinado durante um desfile militar. Os autores do atentado são jihadistas islâmicos infiltrados no exército e pertencentes a uma organização egípcia que se opunha ao acordo de paz estabelecido com Israel anos antes.

Sadat se tornara presidente em 1970 após a morte de Gamal Abdel Nasser, líder máximo do nacionalismo egípcio. Em 1973, em aliança com a Síria, o Egito se envolveu na Guerra do Yom Kipur contra Israel, buscando reaver territórios perdidos para este país na Guerra dos Seis Dias (1967). Ainda que o balanço final do conflito tenha sido mais favorável a Israel, o sucesso em algumas operações militares conferiu a Sadat um elevado prestígio entre os egípcios e maior influência na geopolítica do Oriente Médio. Foi o que lhe abriu caminho para as negociações de paz que culminariam, em 1978, no Acordo de Camp David, rendendo o Prêmio Nobel da Paz a Sadat e ao primeiro-ministro israelense, Menachem Begin.

O acordo, no entanto, se saíra extremamente impopular no mundo árabe, pois grande parte da opinião pública se sentira ultrajada pelo reconhecimento da ocupação israelense da Palestina e pelo estabelecimento por parte do Egito - maior potência militar árabe - de boas relações com  Israel, inimigo histórico do pan-arabismo e grande aliado das potências ocidentais. O assassinato de Anwar Al Sadat foi, portanto, um dramático desdobramento daquele contexto.

Sadat seria sucedido por Hosni Mubarak que, por sua vez, seria derrubado pelas gigantescas mobilizações populares de 2011.






No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciava à Presidência da República. Seu curto mandato havia sido caracterizado pelo afastamento em relação aos partidos que lhe haviam dado suporte inicial e pela condução de uma política externa independente que abalava o humor de líderes políticos liberais e militares pró-EUA. A Constituição, então, previa que o cargo vago fosse entregue ao vice-presidente, posição ocupada na época por João Goulart (Jango). Este, por sua vez, que se encontrava na China em visita oficial, era considerado por seus opositores um perigoso líder de massas. Nesse cenário, Jânio calculava que, ao renunciar, nem o Congresso e nem os militares se permitiriam entregar a Presidência ao seu vice Jango, esperando, assim, ser reconduzido ao cargo com poderes ampliados.

O cálculo de Jânio, no entanto, se mostrou equivocado e o autogolpe não vingou. Em vez disso, a crise política se aprofundou quando os ministros militares e líderes civis conservadores obstaculizaram a nomeação de Jango como presidente, mesmo após o Congresso se negar a vetar a posse. Enquanto se mantinha o empasse, Brizola sacudia o sul do país com a Campanha da Legalidade, obstinada em garantir a posse de Jango, e o 3º Exército, se mobilizava com o mesmo propósito, ameaçando irromper a primeira guerra civil da história do Brasil republicano.

A crise foi contornada com a criação de uma comissão no Congresso que propôs a diminuição dos poderes do presidente e a adoção de um regime parlamentarista. Assim sendo, depois de uma longa viagem de volta, propositalmente repleta de  escalas, Jango chegou ao Brasil em 31 de agosto de 1961. Dias mais tarde, no aniversário da Independência, o vice pôde assumir finalmente a posse em Brasília. A situação ficava parcialmente resolvida, mas sucessivas manifestações de crise política acompanhariam todo o governo Jango até o golpe civil-militar de 1964.

O vídeo abaixo é de uma entrevista de João Goulart concedida à TV Tupi assim de sua chegada a Brasília. O clima já era então de retorno à normalidade. No entanto, o repórter não se furta a tocar em questões candentes daquele momento, como quando questiona quais seriam as pessoas que comporiam o executivo e que relação seria mantida entre este e o Congresso Nacional, que permanecia em grande parte hostil à figura de Jango.

























Em 7 de junho de 1981, a Força Aérea Israelense realizou um ataque surpresa às instalações de um reator nuclear em construção em Osirak, Iraque, situada a apenas 17 km da capital Bagdá, no que ficou conhecido como Operação Ópera. Anos antes, em 1976, o governo iraquiano comprou o reator do governo francês, e ambos os países afirmaram que o empreendimento tinha finalidades pacíficas de diversificação da matriz energética do país árabe. O governo israelense, no entanto, alegou que o objetivo era o de fabricação de armamento nuclear, o que justificaria um "ataque preventivo" por sua força aérea. Após o bombardeio realizado por caças F-16, adquiridos dos EUA, dez soldados iraquianos e um engenheiro civil francês foram mortos.

A despeito dos motivos para o ataque apresentados pelo governo de Israel, diversos analistas geopolíticos consideraram que a ação explicou-se pela proximidade da eleição legislativa para o parlamento israelense, quando o partido da situação - o conservador Likud - sentiu-se compelido a reaver a simpatia da opinião pública interna. A solução então encontrada foi a realização de operação militar de baixa intensidade em meio ao cenário de acirramento das tensões no Oriente Médio. Tanto o Conselho Geral quanto a Assembleia Geral da ONU repreenderam Israel através de duas resoluções.

Durante os anos precedentes ao ataque, Israel realizou algumas operações clandestinas na tentativa de deter o programa nuclear iraquiano. Em 1979, agentes da polícia secreta israelense, a Mossad, detonaram uma bomba que destruiu, ainda na França, um primeiro set do reator, antes que este fosse enviado ao Iraque. No ano seguinte, a mesma organização assassinou Yehia El-Mashad, um cientista nuclear egípcio que trabalhava no programa nuclear iraquiano. Suspeita-se que outros ataques a numerosas empresas italianas e francesas envolvidas no projeto tiveram a mesma autoria, assim como o envio de cartas com ameaças a altos funcionários e técnicos especialistas.

22 anos após a Operação Ópera, a alegação de que o Iraque de Saddam Hussein produzia armas nucleares também foi usada por George W. Bush para justificar a ocupação militar daquele país pelos EUA. As armas, no entanto, jamais foram encontradas.


Imagens feitas por um dos F-15 que escoltavam os bombardeiros F-16 
no ataque de Israel ao reator. Filmagens de cockpit como essa ficariam 
célebres alguns anos mais tarde durante a Guerra do Golfo (1990-1991)


Reportagem recente feita nos EUA sobre a Operação Ópera



1993: greve na Rede Manchete


Em 1992, a Rede Manchete atravessava uma grave crise financeira. Nos anos anteriores, a emissora havia investido alto na produção de telenovelas de sucesso, como Pantanal (1990). Entretanto, toda a reestruturação planejada pelo dono da concessão, Adolpho Bloch, não dera os retornos desejados, e a TV Manchete perdera a vice-liderança de audiência para o SBT de Silvio Santos. Como saída à crise, Bloch negociou a venda da emissora ao grupo IBF (Indústria Brasileira de Formulários), presidida pelo empresário Hamilton Lucas de Oliveira. Na venda, 670 funcionários foram demitidos e a base de operações transferida do Rio de Janeiro para São Paulo.

Na tarde do dia 15 de março de 1993, os funcionários da Rede Manchete de São Paulo retiram a programação do ar como resposta ao atraso do pagamento dos salários. Após a veiculação de um manifesto por escrito, os grevistas passaram a transmitir sua própria mobilização. Além da denúncia do sucateamento da empresa e dos danos acarretados sobretudo aos funcionários, o movimento também abordou o tema da democratização dos meios de comunicação.

O desfecho da situação acabou favorecendo a recuperação da Rede Manchete pelo grupo Bloch através de decisão judicial. Entretanto, a crise se arrastaria até o final da década de 90, quando a falência foi decretada e a concessão transferida ao grupo de Amilcare Dallevo, que substituiu a TV Manchete pela Rede TV!, em 1999.

  


1992: distúrbios de Los Angeles


Em 3 de março de 1991, um cinegrafista amador de Los Angeles flagrou a agressão policial contra um taxista acusado de dirigir em alta velocidade. As imagens do espancamento do cidadão negro Rodney King correram o mundo, conduzindo os policiais envolvidos ao banco dos réus. No julgamento, o juri composto por dez brancos, um negro e um asiático decidiu pela absolvição dos acusados. Após o veredito, em 29 de abril de 1992, desencadeou-se uma das maiores revoltas da história da Califórnia, expondo de forma crua a gravidade das tensões sociais e raciais nos Estados Unidos. Foram seis dias de confrontos, incêndios, saques e depredações que resultaram em 58 mortes, mais de 2800 feridos e 3.100 estabelecimentos comerciais destruídos.


Florence com Normandie: o cruzamento mais tenso de Los 
Angeles em abril de 1992. Imagens transmitidas ao vivo pela TV

Flagrante do espancamento de Rodney King por policiais 
brancos, em 1991


O território do Saara Ocidental foi colonizado pela Espanha, sendo uma das poucas possessões da antiga potência mercantilista na África. Em novembro de 1975, enquanto a Espanha atravessava uma profunda crise política nos últimos momentos da ditadura franquista, o governo do rei do Marrocos, Hassán II, organizou a ocupação "pacífica" do Saara Ocidental, enviando ao território uma leva de 35 mil colonos e 25 mil soldados. A ação, que ficou conhecida como Marcha Verde, se tornou um dos símbolos do nacionalismo marroquino e contribuiu para que o governo monárquico-constitucional do país respondesse à crise de sustentação política interna.

Após a situação entre Espanha e Marrocos ter se tornado tensa e chegar a um impasse - os militares espanhóis instalaram minas terrestres no trajeto pretendido pela marcha -, foi assinado o Acordo de Madri, no qual os espanhóis concordavam em ceder parte dos territórias do Saara Ocidental para marroquinos e mauritanos. O acordo foi celebrado pela imprensa internacional como uma demonstração de pacifismo dos governos e de respeito ao que seria um movimento espontâneo da população localizada ao sul do Marrocos.

Entretanto, a história da ocupação do território desértico do Saara Ocidental pelos marroquinos tende a ocultar suas graves consequências. A região esteve habitada por séculos pelo grupo étnico dos saaráuis que, em 1974, atingia uma população de quase 100 mil habitantes. Depois de quatro séculos de domínio espanhol, o país não contava com praticamente nenhuma infra-estrutura e a grande maioria da população era analfabeta. Com a chegada dos marroquinos, os saaráuis organizaram a Frente Prolisário, que proclamou do exílio a República Árabe Democrática do Saara em 1976 (reconhecida pela ONU a partir de 1984, mesmo sem estrutura de Estado). Em 1979, a Frente conseguiu expulsar os ocupantes mauritanos do sul do Saara Ocidental.

Na frente oeste, a estratégia dos marroquinos contra a resistência saaráui consistiu, e ainda consiste, em defender a "zona do fosfato", localizada nas margens do Atlântico. Para isso, o governo marroquino construiu um imenso muro de concreto para proteger seu grande interesse econômico naquela região.

Atualmente, 75% do Saara Ocidental segue ocupado por tropas marroquinas, enquanto o restante é controlado pelos próprios saaráuis. Como esta parcela menor do território é extremamente carente em recursos naturais, sua população é condenada a requisitar ajuda externa permanentemente. Cerca de 200 mil saarauis vivem no exílio.







No início dos anos 1990, a Iugoslávia estava à beira do esfacelamento. O Estado multinacional e socialista idealizado pela geração de guerrilheiros que, com suas próprias forças, resistiu e expulsou os ocupantes nazistas na Segunda Grande Guerra, encontrava-se em meio a uma grave crise institucional. O estrangulamento econômico iniciado pela crise econômica dos anos 80 e agravado pela dissolução das economias planificadas do Leste Europeu e da União Soviética, criava um cenário de fragilidade política interna e abria a perspectiva de restauração da economia de mercado. Havia grande incerteza sobre quem controlaria as riquezas do país. Nesse processo reacendiam-se as velhas rivalidades nacionalistas - entre croatas, sérvios, eslovenos, bósnios, etc. - que, manejadas com habilidade por ascendentes líderes e senhores de guerra, confundiam soberania nacional com uma vaga ideia de prosperidade social e econômica.

Em 20 de agosto de 1990, a conturbada situação política da Iugoslávia invadiu o cenário esportivo. União Soviética e Iugoslávia disputavam a final do campeonato mundial de basquete, vencida pelos iugoslavos. Na comemoração do título, um homem entrou em quadra empunhando uma bandeira da Croácia, antes mesmo desta constituir-se como Estado independente. Em resposta, o jogador sérvio Vlade Divac tomou o objeto da mão do sujeito em um gesto que seria reprisado a exaustão através dos aparelhos de televisão da Croácia. Assim, o que aparentemente poderia ter passado por um gesto despercebido, ofuscado pelas comemorações, acabou se tornando mais um capítulo marcante dos eventos que sacudiram os Bálcãs à época. No fim do vídeo, é possível ver os jogadores empunhando conjuntamente a bandeira iugoslava, como que para passar uma imagem de que as tensões se mantinham apenas fora das quadras.

As repercussões do acontecimento selariam o fim da grande amizade entre Vlade Divac e o croata Drazen Petrovic, dois dos melhores jogadores do basquete mundial àquela época. Três anos mais tarde, em 1993, Petrovic morreria em um acidente de carro, acabando com a possibilidade de reconciliação entre os companheiros da ex-seleção iugoslava e da NBA. Essa história foi contada no filme "Once Brothers" (2010), escrito e dirigido por Michael Tolajian.


Iugoslávia campeã mundial de basquete. 
Na comemoração, uma bandeira da Croácia.

1985: terremoto na Cidade do México


Nas primeiras horas da manhã do dia 19 de setembro de 1985, a capital mexicana foi abalada por um terremoto de 8.1 graus na escala Richter. No início da noite do dia seguinte, houve uma forte réplica de 7.3 graus. As consequências dos eventos sísmicos foram considerados uma das maiores tragédias da história latinoamericana. O número estimado de vítimas varia elasticamente: considera-se entre 10.000 e 40.000 mortos. Diversos edifícios governamentais, prédios históricos e de destacadas companhias foram destruídos, assim como escolas, hospitais e, aproximadamente, 100.000 residências. As ruínas se estenderam justamente sobre a área central da Cidade do México, uma das mais populosas do mundo. Outras regiões também foram afetadas drasticamente.

O grau elevado de destruição foi atribuído à forma como a Cidade do México foi erguida ao longo dos séculos: a expansão e o desenvolvimento urbano se deram sobre terreno pantanoso, no que um dia foi o Lago Texcoco (localizado na antiga Tenochtitlán, capital do Império Asteca). Os edifícios dessa região central, cada vez mais altos, foram construídos sem que se considerasse tais especificidades históricas e geológicas.

O vídeo abaixo é um dos poucos registros audiovisuais do momento do terremoto de 1985. Trata-se do programa matinal "Hoy Mismo", transmitido ao vivo no momento da tragédia por uma das principais emissoras de TV do mundo, a Televisa. Sem saber ainda a dimensão dos abalos, a apresentadora tenta tranquilizar telespectadores e participantes do programa. Depois da breve suspensão da transmissão, a programação retorna cobrindo os danos no centro da cidade. Estas imagens ficariam marcadas na memória mexicana.


Televisa ao vivo durante terremoto: 
um dos poucos flagrantes da tragédia















A infância não passou incólume às transformações da sociedade brasileira após o golpe civil-militar de 1964. Moldar o imaginário infantil era algo que também se inseria na construção de um consenso em torno de valores conservadores e autoritários. Criado em 1966, o programa infantil Clube do Capitão Aza se destacou neste processo, valendo-se das inovações da mídia de massas e dos novos produtos culturais exportados pela TV norte-americana (como desenhos animados de super-heróis).

O programa estreou na TV Tupi dois anos após o golpe, perdurando até 1979, ano da promulgação da Lei de Anistia. Sua principal atração eram os desenhos animados, além das muitas mensagens proferidas pelo apresentador e delegado de polícia Wilson Vasconcelos Vianna, que interpretava o Capitão Aza (também auto-intitulado capitão em chefe das forças armadas infantis do Brasil).

No vídeo postado, é possível perceber um linguajar inspirado no militarismo, bem como a tentativa de forjar um sentimento de integração nacional, um dos fundamentos da propaganda do regime militar e da sua "Doutrina de Segurança Nacional" (há ainda uma saudação ao então presidente Emílio Médici). Nas datas festivas, como o 7 de Setembro, o Capitão Aza participava dos desfiles das Forças Armadas na Av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro.

Nas suas ações mais perversas, este misto de super-herói ianque e militar latino-americano estimulava os telespectadores infantis a reportar às autoridades policiais eventuais comportamentos suspeitos dos seus pais, como participação em reuniões, contato com pessoas "estranhas", etc. A intenção, se dizia, era a de ajudar a família.






Depois de fracassadas investidas militares direta em Cuba e da Crise dos Mísseis de 1962, sucessivos atos terroristas, praticados por dissidentes cubanos e estrangeiros nos anos 60 e 70, se tornaram uma das principais armas na tentativa de desestabilização do regime cubano. A mais notável destas tentativas ocorreu em 6 de outubro de 1976, quando uma explosão derrubou um avião da estatal Cubana de Aviación, matando todas as 73 pessoas a bordo da aeronave.

O voo CU-455 seguia de Georgetown, Guiana, até Havana, tendo feito uma última escala em Bridgetown, Barbados. Antes da realização de mais uma escala programada no aeroporto de Kingston, Jamaica, e apenas 9 minutos depois da decolagem em Bridgetown, um explosivo automático implantado no banheiro traseiro da aeronave foi detonado. Com o avião em chamas, piloto e copiloto iniciaram manobras de emergência, até que a explosão de uma segunda bomba resultou na destruição completa da aeronave (no vídeo acima é possível escutar a última comunicação entre o piloto e a torre de controle do aeroporto de Bridgetown). Do total de 73 vítimas, 57 eram cubanas, 11 guianenses e 5 norte-coreanos. O fato foi ignorado pela imprensa internacional.

Evidências posteriores revelaram que o atentado fora concebido e executado por contra-revolucionários de origem cubana que mantinham fortes vínculos diretos com a CIA. A agência deu suporte direto à ação junto a membros da antiga polícia secreta venezuelana (autores materiais do atentado). Entre os terroristas estão Orlando Bosch e Luis Posada Carriles, que continuaram vivendo na Flórida apesar dos protestos permanentes do governo cubano pela punição dos envolvidos.

Uma seção do site do Granma, órgão de imprensa oficial do Partido Comunista Cubano, mantém uma lista de diversos atos terroristas sofridos por Cuba entre 1959 e 2001:
http://www.granma.cubaweb.cu/secciones/cdh61/condene/




2002: o medo de Regina Duarte



Regina Duarte tem histórico de participação em propagandas eleitorais. Em 1985, a atriz participou da campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso, então candidato pelo PMDB à prefeitura de São Paulo (o PSDB, partido atual do ex-presidente, só seria criado em 1988). Em propaganda eleitoral na TV, ela convocou os paulistanos a efetuar voto útil em FHC para derrotar o ultraconservador Jânio Quadros (PTB). O recado que se queria passar era claro: votar em Eduardo Suplicy, do Partido dos Trabalhadores e terceiro colocado nas pesquisas, seria diminuir as chances de impedir a vitória janista ainda no primeiro turno.

Porém, a mais polêmica incursão de Regina Duarte no universo eleitoral se deu na eleição presidencial de 2002. No segundo turno da disputa, diante da expressiva vantagem de Lula (PT) nas pesquisas, a atriz gravou um depoimento transmitido no programa eleitoral do candidato José Serra (PSDB) em que dizia temer a vitória do candidato petista. As declarações da atriz tiveram grande impacto no debate público e seriam logo criticadas por outros artistas. Dada a grande repercussão, o "tô com medo" de Regina Duarte ficaria celebrizado no folclore político, sendo referido, inclusive, no discurso de posse de Lula, quando este proferira outra frase que ficaria ainda mais célebre: "a esperança venceu o medo".

Os anos se passaram, a ex-namoradinha do Brasil seguiu protagonizando novelas da Globo, expandiu seus domínios na pecuária e se incorporou de corpo e alma na defesa do agronegócio e na contrariedade à demarcação de terras indígenas e quilombolas. Por essa perspectiva, poder-se-ia perceber que os ataques a Lula foram infundados: o agronegócio foi um dos principais beneficiários das políticas econômicas dos sucessivos governos do PT, enquanto que no campo seguiu o genocídio de sem-terras, indígenas e quilombolas. O que sobrou da esquerda continuou imerso em um cenário de desesperanças e certo medo.

Nos vídeos abaixo, o medo de Regina Duarte em dois momentos: em 1985, fazendo chamado à união das forças democráticas contra a ameaça representada por Jânio Quadros; e em 2002, clamando pela defesa da continuidade do PSDB no governo contra as incertezas da candidatura de Lula/PT.


O medo de Regina Duarte em 1985

Em 2002, a reedição do medo




Na noite de 10 de abril de 1972, em Los Angeles, durante a 44º cerimônia de premiação do Oscar, Charles Chaplin subia ao palco para receber o prêmio honorário da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por sua “incalculável contribuição à arte do cinema".

Era um momento histórico. Chaplin fazia breve retorno de seu exílio na Suiça, após 20 anos de banimento dos EUA em consequência das duras perseguições dos anos de Marcartismo. No pós-Segunda Guerra, o artista havia sido incluído na lista dos perseguidos de Hollywood devido aos seus posicionamentos políticos e ao caráter crítico de suas obras. Em 1952, as acusações feitas pelo Comitê de Atividades Anti-americanas, que era presidido pelo senador Joseph McCarthy, levaram à proibição do regresso de Chaplin aos EUA, após ter realizado uma viagem à Inglaterra.

Quando convidado a receber a honraria em 1972, Chaplin não a recusou. Em seu breve discurso de agradecimento, muito emocionado, demonstrou não guardar rancores. Seguiu-se uma ovação que durou cerca de 12 minutos. Muitos consideram esse o momento mais marcante das cerimônias do Oscar. O roteirista Daniel Taradash, que entregou a estatueta, relembrou frases célebres de Chaplin em "O grande ditador" (1940). Eis uma passagem ainda muito atual do discurso presente no filme:

"Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."

Charles Chaplin morreria 5 anos depois na Suiça, em 25 de dezembro de 1977, aos 88 anos.